quinta-feira, 14 de junho de 2012

E não viveram felizes para sempre

"Tudo começa com "Era uma vez" e termina em "E foram felizes para sempre". O desenrolar da história perde-se num momento, numa ocasião. O interruptor da luz impulsiona a narrativa e, depois de para sempre, há o mergulho na escuridão. O fim da história. Para sempre é muito tempo. Que promessa é esta? Que certeza? Como pode um final feliz terminar com um ponto final? Onde estão as vírgulas, as interrogações das incertezas e as reticências do silêncio?"

domingo, 3 de junho de 2012

O desequilíbrio do abraço

"Porque depois de nos afastarmos, passamos a sentir desconforto por já termos sidos tão íntimos
Não estou habituada a esta intimidade que se transfigurou em diplomacia. É como se sua imagem nunca tivesse carimbado os meus olhos. Oi, como vai?
Logo nós, que nos conhecíamos tão bem, agora, quase estranhos. E a família?
Sinto-me sufocada. Desconforto por te conhecer demais. E no trabalho, tudo certo?
Impossível retomar a espontaneidade. Não existe uma segunda chance. Esta semana começa a fazer frio.
Trivialidades que pesam exageradamente em cada frase. Tem visto o fulano?
O verbo dói, o sujeito sofre. Não nos bastamos na mesma sala, onde a educação ganha proporções exageradas e artificiais. Você emagreceu.
Seu cheiro, que tantas vezes impregnou em meu suor já parece uma lembrança remota. Está bem, nos falamos por aí.
Perdemos o equilíbrio do nosso abraço. Não sei mais a intensidade com a qual devo te abraçar. Ficamos em dúvida como a conversa deve terminar. Duelo em nosso adeus. Tchau, cuide-se.
Você vira as costas e sai. Eu caminho no sentido contrário com um nó cego na garganta. Assim, sem nenhuma linha que nos prenda, sem que nenhum sentimento nos mantenha, sem que nossos olhos se despeçam. E seguimos. Como dois velhos estranhos."