quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O Amor é...

O amor é o início. O amor é o meio. O amor é o fim. O amor faz-te pensar, faz-te sofrer, faz-te agarrar o tempo, faz-te esquecer o tempo. O amor obriga-te a escolher, a separar, a rejeitar. O amor castiga-te. O amor compensa-te. O amor é um prémio e um castigo. O amor fere-te, o amor salva-te, o amor é um farol e um naufrágio. O amor é alegria. O amor é tristeza. É ciúme, orgasmo, êxtase. O nós, o outro, a ciência da vida.
O amor é um pássaro. Uma armadilha. Uma fraqueza e uma força.
O amor é uma inquietação, uma esperança, uma certeza, uma dúvida. O amor dá-te asas, o amor derruba-te, o amor assusta-te, o amor promete-te, o amor vinga-te, o amor faz-te feliz.
O amor é um caos, o amor é uma ordem. O amor é um mágico. E um palhaço. E uma criança. O amor é um prisioneiro. E um guarda.
Uma sentença. O amor é um guerrilheiro. O amor comanda-te. O amor ordena-te. O amor rouba-te. O amor mata-te.
O amor lembra-te. O amor esquece-te. O amor respira-te. O amor sufoca-te. O amor é um sucesso. E um fracasso. Uma obsessão. Uma doença. O rasto de um cometa. Um buraco negro. Uma estrela. Um dia azul. Um dia de paz.
O amor é um pobre. Um pedinte. O amor é um rico. Um hipócrita, um santo. Um herói e um débil. O amor é um nome. É um corpo. Uma luz. Uma cruz. Uma dor. Uma cor. É a pele de um sorriso. 



Joaquim Pessoa, in 'Ano Comum'

quinta-feira, 14 de junho de 2012

E não viveram felizes para sempre

"Tudo começa com "Era uma vez" e termina em "E foram felizes para sempre". O desenrolar da história perde-se num momento, numa ocasião. O interruptor da luz impulsiona a narrativa e, depois de para sempre, há o mergulho na escuridão. O fim da história. Para sempre é muito tempo. Que promessa é esta? Que certeza? Como pode um final feliz terminar com um ponto final? Onde estão as vírgulas, as interrogações das incertezas e as reticências do silêncio?"

domingo, 3 de junho de 2012

O desequilíbrio do abraço

"Porque depois de nos afastarmos, passamos a sentir desconforto por já termos sidos tão íntimos
Não estou habituada a esta intimidade que se transfigurou em diplomacia. É como se sua imagem nunca tivesse carimbado os meus olhos. Oi, como vai?
Logo nós, que nos conhecíamos tão bem, agora, quase estranhos. E a família?
Sinto-me sufocada. Desconforto por te conhecer demais. E no trabalho, tudo certo?
Impossível retomar a espontaneidade. Não existe uma segunda chance. Esta semana começa a fazer frio.
Trivialidades que pesam exageradamente em cada frase. Tem visto o fulano?
O verbo dói, o sujeito sofre. Não nos bastamos na mesma sala, onde a educação ganha proporções exageradas e artificiais. Você emagreceu.
Seu cheiro, que tantas vezes impregnou em meu suor já parece uma lembrança remota. Está bem, nos falamos por aí.
Perdemos o equilíbrio do nosso abraço. Não sei mais a intensidade com a qual devo te abraçar. Ficamos em dúvida como a conversa deve terminar. Duelo em nosso adeus. Tchau, cuide-se.
Você vira as costas e sai. Eu caminho no sentido contrário com um nó cego na garganta. Assim, sem nenhuma linha que nos prenda, sem que nenhum sentimento nos mantenha, sem que nossos olhos se despeçam. E seguimos. Como dois velhos estranhos."

terça-feira, 29 de maio de 2012

O Presente não Existe

Não é extraordinário pensar que dos três tempos em que dividimos o tempo - o passado, o presente e o futuro -, o mais difícil, o mais inapreensível, seja o presente? O presente é tão incompreensível como o ponto, pois, se o imaginarmos em extensão, não existe; temos que imaginar que o presente aparente viria a ser um pouco o passado e um pouco o futuro. Ou seja, sentimos a passagem do tempo. Quando me refiro à passagem do tempo, falo de uma coisa que todos nós sentimos. Se falo do presente, pelo contrário, estarei falando de uma entidade abstracta. O presente não é um dado imediato da consciência.Sentimo-nos deslizar pelo tempo, isto é, podemos pensar que passamos do futuro para o passado, ou do passado para o futuro, mas não há um momento em que possamos dizer ao tempo: «Detém-te! És tão belo...!», como dizia Goethe. O presente não se detém. Não poderíamos imaginar um presente puro; seria nulo. O presente contém sempre uma partícula de passado e uma partícula de futuro, e parece que isso é necessário ao tempo. 

Jorge Luís Borges

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Cada Dia é Sempre Diferente dos Outros


Cada dia é sempre diferente dos outros, mesmo quando se faz aquilo que já se fez. Porque nós somos sempre diferentes todos os dias, estamos sempre a crescer e a saber cada vez mais, mesmo quando percebemos que aquilo em que acreditávamos não era certo e nos parece que voltámos atrás. Nunca voltamos atrás. Não se pode voltar atrás, não se pode deixar de crescer sempre, não se pode não aprender. Somos obrigados a isso todos os dias. Mesmo que, às vezes, esqueçamos muito daquilo que aprendemos antes. Mas, ainda assim, quando percebemos que esquecemos, lembramo-nos e, por isso, nunca é exactamente igual.
— Porquê, pai?
— Porque a memória não deixa que seja igual, mesmo que seja uma memória muito vaga, mesmo que seja só assim uma espécie de sensação muito vaga. É que a memória não é sempre aquilo que gostaríamos que fosse. Grande parte dos nossos problemas estão na memória volúvel que possuímos. Aquilo que é hoje uma verdade absoluta, amanhã pode não ter nenhum valor. Porque nos esquecemos, filho. Esquecemos muito daquilo que aprendemos. E cansamo-nos. E quando estamos cansados, deixamos de aprender. Queremos não aprender por vontade. Essa é a nossa maneira de resistir, mais ou menos, àquilo que nos custa entender. E aquilo que nos custa entender pode ter muitas formas, pode chegar de muitos lugares.
— Porquê, pai?
— Porque nos parece que é assim. Mas talvez não seja assim. Aquilo que nos custa entender é sempre uma surpresa que nos contradiz. Então, procuramos convencer-nos das mais diversas maneiras, encontramos as respostas mais elaboradas e incríveis para as perguntas mais simples. E acreditamos mesmo nelas, queremos mesmo acreditar nelas e somos capazes. Somos mesmo capazes. Não imaginas aquilo em que somos capazes de acreditar.
— Porquê, pai?
— Porque temos de sobreviver. Porque, à noite, a esta hora, temos de encontrar força para conseguirmos dormir, descansar, e temos de acreditar que no dia seguinte poderemos acordar na vida que quisemos, que desejámos. Temos de acreditar que poderemos acordar na vida que conseguimos construir e que essa vida tem valor, vale a pena. Muito mais difícil do que esse esforço é considerarmos que fomos incapazes, que não conseguimos melhor, que a culpa foi nossa, toda e exclusiva. 


José Luís Peixoto, in 'Abraço' 

domingo, 6 de maio de 2012

Somebody That I Used To Know


Now and then I think of when we were together
Like when you said you felt so happy you could die
Told myself that you were right for me
But felt so lonely in your company
But that was love and it's an ache I still remember

You can get addicted to a certain kind of sadness
Like resignation to the end, always the end
So when we found that we could not make sense
Well you said that we would still be friends
But I'll admit that I was glad it was over

But you didn't have to cut me off
Make out like it never happened and that we were nothing
And I don't even need your love
But you treat me like a stranger and I feel so rough
No you didn't have to stoop so low
Have your friends collect your records and then change your number
I guess that I don't need that though
Now you're just somebody that I used to know

Now you're just somebody that I used to know
Now you're just somebody that I used to know

Now and then I think of all the times you screwed me over
Part of me believing it was always something that I'd done
But I don't wanna live that way
Reading into every word you say
You said that you could let it go
And I wouldn't catch you hung up on somebody that you used to know

(...)

Gotye- Somebody That I Used To Know (feat. Kimbra)

domingo, 29 de abril de 2012

Um dia...


Vou comentar este filme...

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Respira...


1...2...3...4...5...6...7...8...9...10...


Lá está...

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Bahhhhhhhhhhhhhh

E quando tudo parece estar bem...
Aparece aquela rasteira.


Fuck ás vezes fazes-me mesmo muita falta... :|

terça-feira, 27 de março de 2012

Aprendemos. Mas também nos esquecemos disso.

Depois de algum tempo aprendes a diferença, a subtil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma. E aprendes que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança. E começas a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas. Acabas por aceitar as derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança. E aprendes a construir todas as tuas estradas de hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.
Depois de algum tempo aprendes que o sol queima se te expuseres a ele por muito tempo. Aprendes que não importa o quanto tu te importas, simplesmente porque algumas pessoas não se importam... E aceitas que apesar da bondade que...... reside numa pessoa, ela poderá ferir-te de vez em quando e precisas perdoá-la por isso. Aprendes que falar pode aliviar dores emocionais. Descobres que se leva anos para se construir a confiança e apenas segundos para destruí-la, e que poderás fazer coisas das quais te arrependerás para o resto da vida.
Aprendes que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias. E o que importa não é o que tens na vida, mas quem tens na vida. E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher. Aprendes que não temos que mudar de amigos se compreendemos que os amigos mudam, percebes que o teu melhor amigo e tu podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos. Descobres que as pessoas com quem tu mais te importas são tiradas da tua vida muito depressa, por isso devemos sempre despedir-nos das pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos. Aprendes que as circunstâncias e os ambientes têm influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos.
Começas a aprender que não te deves comparar com os outros, mas com o melhor que podes ser. Descobres que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que se quer ser, e que o tempo é curto. Aprendes que, ou controlas os teus actos ou eles te controlarão e que ser flexível nem sempre significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, existem sempre os dois lados.
Aprendes que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer enfrentando as consequências. Aprendes que paciência requer muita prática.
Descobres que algumas vezes a pessoa que esperas que te empurre, quando cais, é uma das poucas que te ajuda a levantar. Aprendes que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que tiveste e o que aprendeste com elas do que com quantos aniversários já comemoraste. Aprendes que há mais dos teus pais em ti do que supunhas.
Aprendes que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são disparates, poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.
Aprendes que quando estás com raiva tens o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel. Descobres que só porque alguém não te ama da forma que desejas, não significa que esse alguém não te ama com tudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.
Aprendes que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes tens que aprender a perdoar-te a ti mesmo. Aprendes que com a mesma severidade com que julgas, poderás ser em algum momento condenado.
Aprendes que não importa em quantos pedaços o teu coração foi partido, o mundo não pára para que tu o consertes. Aprendes que o tempo não é algo que possa voltar para trás.
Portanto, planta o teu jardim e decora a tua alma, ao invés de esperares que alguém te traga flores. E aprendes que realmente podes suportar mais... que és realmente forte, e que podes ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor e que tu tens valor diante da vida!
As nossas dádivas são traidoras e fazem-nos perder o bem que poderíamos conquistar, se não fosse o medo de tentar.

William Shakespeare

quarta-feira, 21 de março de 2012

Sou a tua casa

Sou a tua casa, a tua rua, a tua segurança, o teu destino. Sou a maçã que comes e a roupa que vestes. Sou o degrau por onde sobes, o copo por onde bebes, o teu riso e o teu choro, o teu frio e a tua lareira. O pedinte que ajudas, o asilo que te quer acolher. Sou o teu pensamento, a tua recordação, a tua vontade. E também o artesão que para ti trabalha, o medo que te perturba e o cão que te guia quando entras pela noite. Sou o sítio onde descansas, a árvore que te dá sombra, o vento que contigo se comove. Sou o teu corpo, o teu espírito, o teu brilho, a tua dúvida. Sou a tua mãe, o teu amante, o marfim dos teus dentes. E sou, na luz do outono, o teu olhar. Sou a tua parteira e a tua lápide. Os teus vinte anos. O coração sepultado em ti. Sou as tuas asas, a tua liberdade, e tudo o que se move no teu interior. Sou a tua ressaca, o teu transtorno, o relógio que mede o tempo que te resta. Sou a tua memória, a memória da tua memória, o teu orgulho, a fecundação das tuas entranhas, a absolvição dos teus pecados. O teu amuleto e a tua humildade. Sou a tua cobardia, a tua coragem, a força com que amas. Sou os teus óculos e a tua leitura. A tua música preferida, a tua cor preferida, o teu poema preferido. Sou o que significas para mim, a ternura que desagua nos teus dedos, o tamanho das tuas pupilas antes e depois de fazer amor. Sou o que sou em ti e o que não podes ser em mim. Sou uma só coisa. E duas coisas diferentes.

Joaquim Pessoa

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

True

“Don’t limit yourself. Many people limit themselves to what they think they can do. You can go as far as your mind lets you. What you believe, remember, you can achieve.”
 :)

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

E amanhã...

«IF» não existe


O dia não interessa, nem sequer me diz nada.
Existe a necessidade de encerrar o capítulo e isso sim é o que fica retido.
Não percebo. Não julgo porque não percebo.
Como é que o que hoje é importante amanhã deixa de o ser?
Como é que deixamos de ser uma pessoa importante na vida de alguém de um momento para o outro?
Como deixamos em branco o espaço que outrora foi preenchido com confidências, alegrias, tristezas, sentimentos, palavras, momentos partilhados?
Como é que hoje sentimos que é para sempre e amanhã deixamos tudo para trás?
O que foi dito/vivido não foi sentido? Não foi verdadeiro?
Tantas, mas tantas perguntas que vão permanecer sem resposta…
Nas introspecções diárias que faço penso em tudo e tenho as minhas respostas, mas as tuas nunca vou ter.
Pensava que tínhamos o que muitos querem mas poucos conseguem, uma cumplicidade “inatingível por qualquer ser humano” dizias tu. Concordei. Nunca antes tinha atingido esse patamar.
As relações (note-se que se entende qualquer tipo de relação, neste caso de amizade, sentimentos existentes, ou não, á parte) não são perfeitas, e ainda bem caso contrário não existiria a constante “conquista” que se faz notar nos mais pequenos pormenores.
Sem pensar nisso, ou existir algum esforço, o meu “eu” veio sempre ao de cima contigo.
Parvoíces, desabafos, resmunguices, mau feitio, alegrias, tudo aquilo que nos caracteriza positiva ou negativamente, conheces-te tudo ao pormenor. Conhecias-me. Adivinhavas-me.
Confiava em ti como se de uma parte de mim se trata-se. De olhos fechados. Sem olhar para trás.
Sabia o teu estado de espírito apenas pela forma como escrevias as mensagens, como atendias o telemóvel… Sentia quando estavas menos bem (fuck nunca percebi como isto acontecia). Sabia também quando me estavas a ouvir mas não me estavas a escutar. E sabia que estavas sempre ali. Quando estava eufórica, deprimida, a precisar de opiniões ou simplesmente quando precisava de um “travão” sabia a quem recorrer. Agora não sei. Ou melhor não tenho. Tenho bons amigos, é verdade e tu sabes. Nenhum como tu. Nenhum que me faça sentir eu como quando estou contigo. Nenhum que tenha o dom de me conhecer dessa forma. Nenhum que partilhe da mesma doença que eu.
Não entendo como chegámos a este ponto. E apesar de dizer/pensar que também já não quero saber, a verdade é que queria saber sim. Mas não vou fazer nada para que isso aconteça. Cortas-te relações, e qualquer aproximação (mensagem ou email) foi em vão.
Não sei de ti. Não te posso falar de mim. Não te vou dizer como isso me deixa porque se realmente algum dia me conheceste deves saber.
Não sei onde hei-de colocar a confiança que estava depositada em ti.
Sempre disseste que para sempre é tempo de mais, e que não acreditavas. Pois eu ingenuamente acreditei e olha no que deu… A minha convicção de que existem coisas que são realmente para sempre foi abalada com tudo isto. Porém continuo a acreditar, pois para mim serás para sempre a estrela branca, com a diferença de que já não consigo chegar a ela.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

sábado, 11 de fevereiro de 2012

O Amor e a Vida

 O amor é uma imagem da nossa vida. Tanto o primeiro como a segunda estão sujeitos às mesmas revoluções e mudanças. A sua juventude é resplandecente, alegre e cheia de esperanças porque somos felizes por ser jovens tal como somos felizes por amar. Este agradabilíssimo estado leva-nos a procurar outros bens muito sólidos. Não nos contentamos nessa fase da vida com o facto de susbsistirmos, queremos progredir, ocupamo-nos com os meios para nos aperfeiçoarmos e para assegurar a nossa boa sorte. Procuramos a protecção dos ministros, mostrando-nos solícitos e não aguentamos que outrem queira o mesmo que temos em vista. Este estímulo cumula-nos de mil trabalhos e esforços que logo se apagam quando alcançamos o desejado. Todas as nossas paixões ficam então satisfeitas e nem por sombras podemos imaginar que a nossa felicidade tenha fim.
No entanto, esta felicidade raramente dura muito e fatiga-se da graça da novidade. Para possuirmos o que desejámos não paramos de desejar mais e mais. Habituamo-nos ao que temos, mas os mesmos haveres não conservam o seu preço, como nem sempre nos tocam do mesmo modo. Mudamos imperceptivelmente sem disso nos apercebermos. O que já adquirimos torna-se parte de nós mesmos e sofreríamos muito com a sua perda, mas já não somos sensíveis ao prazer de conservar o adquirido. A alegria já não é viva, procuramos noutro lado que não naquele que tanto desejámos. Esta inconstância involuntária acontece com o tempo que, sem querermos, não perdoa: mexe no nosso amor e na nossa vida. Apaga sub-repticiamente dia-a-dia algo da nossa juventude e da nossa alegria, destruindo os nossos maiores encantos. Tornamo-nos mais circunspectos e juntamos negócios às paixões. O amor já não subsiste por si mesmo, indo alimentar-se de ajudas exteriores. Este estádio do amor corresponde àquela idade em que começamos a ver por onde devemos acabar com ele, mas não temos a força para acabar directamente. No declínio, no amor como no da vida, ninguém quer resolver-se a evitar a maneira de prevenir os desgostos que ainda estão por vir; ainda se vive para aceitar os males futuros, mas não para os prazeres. Os ciúmes, a desconfiança, o medo de nos tornarmos maçadores e o medo que nos abandonem são males ligados à velhice do amor, tal como as doenças se agarram à demasiado longa duração da vida. Nesta idade, sentimo-nos viver, porque sentimos que estamos doentes, como só sabemos que estamos apaixonados quando sentimos as penas do amor. Só se sai do adormecimento das relações demasiado longas pelo enfado e pelo desgosto de ainda nos vermos agarrados. Enfim, de todas as decrepitudes, a do amor é a mais insuportável.

La Rochefoucauld, in 'Reflexões'

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

E às vezes...

...As saudades apertam...

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Começar de novo

E hoje é dia de encerrar um capítulo.
Depois de quase 8 anos a trabalhar no mesmo sitio, chegou a altura de mudar...
Começar de novo, voltar a conquistar, estar afastada das pessoas que me têm acompanhado... Tudo isto me está a custar.
Por outro lado gosto de desafios e gosto de aprender. Vamos ver o que esta nova fase me reserva.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Fuck

Sempre te disse que não percebia como o fazias com as outras pessoas.
Agora que é comigo percebo ainda menos...

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

A um passo do amor

A um passo do amor estarás a um passo do futuro e a duzentos mil anos do passado. O teu nome é o nome de todas as coisas, quando todas as coisas respiram no teu nome. Entre o sofrimento e a felicidade, muito de ti se espalha pela vida, muita vida te aguarda, muita vida te procura. Um duplo coração bate dentro do peito e fora de ti. Tens a sabedoria das crianças e a sabedoria dos velhos. Sabes ferir e beijar e sentes o vento do orgulho. Pequeninos gestos, grandes pensamentos, constroem um dia excepcional, um amor excepcional, uma violência excepcional. Todas as noites são uma só noite, tanto desespero pode voltar a ser esperança. As tuas mãos são uma pátria. Os teus dedos são, umas vezes, o mais difícil dos rebanhos. E outras, os cães que o guardam, quando a verdade é triste e o amor tem a fome e a sede das estrelas. 

Joaquim Pessoa, in 'Ano Comum' 

Amo-te por todas as razões e mais uma

Por todas as razões e mais uma. Esta é a resposta que costumo dar-te quando me perguntas por que razão te amo. Porque nunca existe apenas uma razão para amar alguém. Porque não pode haver nem há só uma razão para te amar.
Amo-te porque me fascinas e porque me libertas e porque fazes sentir-me bem. E porque me surpreendes e porque me sufocas e porque enches a minha alma de mar e o meu espírito de sol e o meu corpo de fadiga. E porque me confundes e porque me enfureces e porque me iluminas e porque me deslumbras.
Amo-te porque quero amar-te e porque tenho necessidade de te amar e porque amar-te é uma aventura. Amo-te porque sim mas também porque não e, quem sabe, porque talvez. E por todas as razões que sei e pelas que não sei e por aquelas que nunca virei a conhecer. E porque te conheço e porque me conheço. E porque te adivinho. Estas são todas as razões.
Mas há mais uma: porque não pode existir outra como tu.

Joaquim Pessoa, in 'Ano Comum'

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

As saudades curtas

Também as versões-formiga dos maiores sentimentos têm tanto direito ao respeito como os leões e as impalas. Até por serem muito mais numerosas e frequentes, como está a multidão de insectos para com a pequena minoria dos vertebrados.
A minha formiguinha emocional são as saudades curtas que eu tenho da Maria João. Plenas não posso ter, graças a ela e a Deus, porque são poucos os momentos em que ela não está comigo. Mesmo não sendo muitas, essas faltas, por muito felizmente pequenas e provocadas pela necessidade, são suficientes para incutir em mim a dor, nem que seja por cinco minutos apenas, de estar separado dela.
Parecem estúpidas as saudades curtas. São certamente insensíveis e solipsistas, perante as saudades longas e profundas, que não têm cura nem, por serem insolúveis, têm a esperança de, um dia, deixarem de existir.
São saudades de uma hora, de um almoço perdido, de uma tarde interrompida. Parecem irracionais e ingratas, estas saudades curtas, de que sofrem as pessoas apaixonadas e felizes ou infelizes.
Mas não são. Daqui a um X número de horas, vou morrer. Daqui a um Y número de horas, vai morrer a Maria João. Morra quem morra, com a maior ou mais pequena das antecedências, o certo é que o tempo da vida e da saudade está contado.
Cada hora que não estou com ela está para sempre, definitivamente, finitamente perdida. E é daí que vêm as saudades curtas do amor, que tomam cada momento por uma vida. Só por amor se vive assim.

Miguel Esteves Cardoso, in 'Jornal Público (18 Jun 2011)'

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

O que distingue um Amigo Verdadeiro

 Para se ser um bom amigo, têm de herdar-se, de coração inteiro, os amigos e os inimigos da outra pessoa. E fácil estar sempre do lado de quem se julga ter razão. O que distingue um amigo verdadeiro é ser capaz de estar ao nosso lado quando nós não temos razão. O amigalhaço, em contrapartida, é o modelo mais mole e vira-casacas da moderação. Diz: «Eu sou muito amigo dele, mas tenho de reconhecer que ele é um sacana.» Como se pode ser amigo de um sacana? Os amigos são, por definição, as melhores pessoas do mundo, as mais interessantes e as mais geniais. Os amigos não podem ser maus. A lealdade é a qualidade mais importante de uma amizade. E claro que é difícil ser inteiramente leal, mas tem de se ser.

Miguel Esteves Cardoso, in 'Os Meus Problemas'

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Problemas de confiança


De quem nunca esperei, baixei a guarda e caí
É melhor estar à espera da queda, concluí
Que para confiar temos que conhecer bem
Confio em quem conheço mas não conheço ninguém
Só nos magoam os que amamos
Só nos podem desiludir as pessoas em quem nós confiamos
Porque os outros não têm esse poder
Certo é que sem confiança há pouco mais a perder
Se calhar não há amigos apenas rasgos de amizade
E ninguém é feliz mas há momentos de felicidade
E quem perdoa merece louvor
A vida é curta demais para se viver com rancor

Não és tu sou eu
Não consigo confiar
Já caí tantas vezes que já me custa a acreditar
Problemas de confiança
Não és tu sou eu
Não consigo confiar
Já caí tantas vezes que já me custa levantar...

Excerto de "Problemas de Confiança" in AC Para Os Amigos

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Foi um momento

Foi um momento
O em que pousaste
Sobre o meu braço,
Num movimento
Mais de cansaço
Que pensamento,
A tua mão
E a retiraste.
Senti ou não ?

Não sei. Mas lembro
E sinto ainda
Qualquer memória
Fixa e corpórea
Onde pousaste
A mão que teve
Qualquer sentido
Incompreendido.
Mas tão de leve!...

Tudo isto é nada,
Mas numa estrada
Como é a vida
Há muita coisa Incompreendida...

Sei eu se quando
A tua mão
Senti pousando
‘Sobre o meu braço,
E um pouco, um pouco,
No coração,
Não houve um ritmo
Novo no espaço?
Como se tu,
Sem o querer,
Em mim tocasses
Para dizer
Qualquer mistério,
Súbito e etéreo,
Que nem soubesses
Que tinha ser.

Assim a brisa
Nos ramos diz
Sem o saber
Uma imprecisa
Coisa feliz.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Talvez...


‎"Tenho amor incondicional pelas pessoas que entram em minha vida e sinceramente, não sei o quanto isso é bom nos dias atuais. Talvez esse seja meu pior defeito."


Bem-vindo 2012